12 Mar
Aplicação prática da CNV

Família - As relações familiares não são estáticas, porém dinâmicas, como uma dança que varia com seus ritmos e com os ritmos de cada pessoa com quem nos relacionamos. Perceber esse dinamismo nos ajuda nas questões variadas que envolvem a família como: afetos, cuidado, memórias, poder e histórias que alteram a maneira como nos expressamos com cada pessoa. Por meio da prática da autoempatia é possível oferecermos empatia às pessoas que convivemos e, consequentemente, impactar mudanças no sistema familiar. Em todas as relações familiares a CNV pode atuar de maneira eficaz visando uma melhor comunicação com resultados práticos. Na CNV o foco é dizer ou expressar o que se deseja e não o que não se deseja, e assim deixar mais claro aquilo que queremos. 

Exemplo do cotidiano: Mãe: “Não chegue tarde em casa hoje”. Pai: “Saia deste celular” 

Segundo a CNV, uma maneira efetiva e assertiva é dizer o que realmente queremos, exemplo: Mãe: “Gostaria que você ficasse mais tempo em casa, porque, eu sinto sua falta”. Pai: “Gostaria que você deixasse um pouco seu celular e passasse mais tempo conversando com a nossa família”. 

Relacionamentos amorosos – A exemplo das relações familiares, os relacionamentos amorosos têm muito a ganhar com a aplicação da CNV. Como a abordagem da CNV baseia-se em compreender e expressar sentimentos, fazendo isso da maneira correta, o relacionamento amoroso tende a ser mais autêntico (autenticidade é uma das bases da CNV). A CNV é uma forma de ter diálogos mais francos e corajosos e por isso, nem sempre fáceis, porque você poderá receber um não como resposta; sendo essencial estar pronta (o) para isso.

Contudo, isso não significa ficar passivo (a), é justamente o contrário; trata-se de abrir a possibilidade de dizer o que é necessário e o que sente. Não é sobre evitar conflitos, mas permitir a mediação deles. As discussões sempre vão existir, é importante ter em mente que divergências vão ocorrer, mas precisamos aprender com elas e como lidar com essas situações. 

Uma relação saudável é estar atento a isso e adaptar-se conforme às necessidades. Não existe relação perfeita. O que existe são duas pessoas que estão juntas e fazem a relação dar certo, para isso ocorrer, a comunicação é imprescindível. 

Conhecidos, colegas e amigos - Para entender as necessidades das pessoas, começamos por respeitar sua forma de pensar, sentir e falar, assim como exigimos para nós mesmos. Seja verdadeiro e objetivo. Por isso, não faça rodeios, não espere que a outra pessoa entenda plenamente o que você está dizendo se você não consegue passar a sua mensagem com total clareza. Vale dizer que também é muito importante estar aberto e solícito, caso a outra pessoa não tenha entendido o que foi dito. 

Ambientes de ensino – A violência se manifesta em diversas esferas e comportamentos da nossa sociedade. Assim, seu reflexo pode aparecer no ambiente escolar. Ela pode estar escondida nas ordens, nos gritos, nas brigas, na repressão de formas expressivas dos alunos, ou até mesmo na falta de escuta ativa. Nesse sentido, podemos ver a violência não só como um ato físico, mas também verbal ou gestual – nem sempre tão demarcados como ações violentas. Ações repressoras, inibidoras e constrangedoras podem estar entrelaçadas com aspectos das microviolências que reproduzimos todos os dias – e isso afeta a vida até nas escolas! 

Exemplo: Às vezes, o aluno fica frustrado porque gostaria de brincar em um momento de estudo. A professora pode trabalhar a situação ouvindo a necessidade do aluno, estimulando que ele a reconheça e faça o pedido por um tempo de diversão. Em contrapartida, pode apresentar sua necessidade de ensinar e vê-los aprender coisas novas que serão importantes para diversas atividades na vida. Em seguida, mostrar sua compaixão com a necessidade do aluno e demarcar que após o momento de estudos, ou em outro dia, a aula poderá ser mais interativa e com brincadeiras. 

Ambientes de trabalho - Conflitos no trabalho são inevitáveis e, muitas vezes, até necessários. É uma situação que pode ser produtiva, pois ao trazer um ponto de vista diferente ou estar diante de uma reação oposta de um colaborador, cria-se uma reflexão sobre o que precisa ser ajustado dentro da organização. A essência de um conflito é justamente a percepção de uma ideia distinta. O ponto central da questão é a intensidade, que não deve passar do limite de uma convivência saudável. É exatamente nesta hora que a Comunicação Não Violenta (CNV) entra em cena. 

Exemplo: Em uma empresa de cosméticos, Flávia solicitou um relatório sobre o histórico de venda de um produto nos últimos seis meses. Lívia estava sobrecarregada com outras tarefas e questionou Flávia sobre a importância do relatório, já que o produto era líder de vendas da seguinte forma: “Não vejo sentido nenhum em levantar dados de vendas para um produto que lidera o mercado”. As duas perderam quase 45 minutos discutindo a importância ou não de fazer o relatório. 

A questão central poderia ter sido resolvida de forma prática se Lívia simplesmente tivesse expressado sua necessidade com clareza: “Neste momento, estou com outras análises pendentes que vão ocupar pelo menos 8 horas do meu dia sobre produtos que não estão atingindo as metas da empresa. Podemos deixar esse relatório para uma outra oportunidade para que eu não precise ficar além do meu horário hoje?” Flávia não sabia das outras tarefas de Lívia. 

Ambientes sociais - Para Rosenberg, é na forma como as pessoas se comunicam entre si que se encontra a solução para resolver desentendimentos e discussões. Mas ele aponta que existem algumas maneiras de se comunicar que fazem com que as pessoas apresentem comportamentos violentos, o que definiu como “comunicação alienante da vida”. Exemplos disso são julgamentos moralizantes (que trazem sentimentos como culpa, depreciação, rotulação e crítica), comparações, negação de responsabilidade e transformação de desejos em exigências. Além disso, quando se está na posição de ouvinte existem alguns comportamentos que impedem as pessoas de estarem presentes o suficiente para se conectarem com empatia. São eles os impulsos de educar, competir pelo sofrimento, consolar, contar história, ser solidário ou encerrar o assunto. Em meio a uma conversa, o melhor é ouvir, ao invés de deduzir possibilidades. 

Exemplo: Se alguém disser: “Você está fazendo isso errado”; não crie histórias na sua cabeça, como: “Você não sabe fazer nada, é um idiota e faz tudo errado”; o melhor a fazer é ouvir tudo o que a pessoa tem a dizer, para só então questionar o interlocutor: “Por que estou fazendo isso errado?” ou “Onde estou errando?”. Assim, além de parar de deduzir quais podem ser esses erros e porque a pessoa está dizendo isso, e se culpar por isso, você ainda ganha a oportunidade de melhorar suas habilidades.