A CNV contribui para os nossos relacionamentos com amigos e com a família, no trabalho, na política e outras áreas da nossa vida. Porém, sua aplicação mais decisiva, talvez seja na maneira como tratamos a nós mesmos. Quando internamente somos violentos, é difícil ter uma compaixão verdadeira pelos outros.
Auto empatia ou autocompaixão é a capacidade que também pode ser desenvolvida, de oferecermos apoio e suporte para nós mesmos, antes de qualquer julgamento ou avaliação. É validarmos nossa experiência a nível dos sentimentos que estamos convivendo e das necessidades que eles indicam que estão querendo ser atendidas. É um ato de gentileza e de amizade internos.
Faz um contraponto com hábitos de cobrança e exigência ou de ideal de eu – o narcisismo, que nos momentos de dor e fracasso não nos apoiam. A autocompaixão é uma prática fundamental para construção de resiliência, a arte de envergar sem quebrar. Do mesmo modo, o rompimento com ciclos de violência internos e externos leva ao autocuidado.
Assim, autocompaixão e resiliência se complementam mutuamente uma à outra. Praticar autocuidado é um hábito que pode ser desenvolvido quando se tem consciência e intenção. É pautado por comportamentos generosos, pacientes e diligentes. É também fundamental que haja constância.
Nas palavras de Rinponche e Tworkov (2018), “a maneira mais simples de entender a disciplina é dividi-la em três categorias: evitar atividades que criem sofrimento, fazer coisas que promovam a felicidade e o bem-estar e ajudar os outros”. Autocompaixão abrange perdoar-se, reconhecer no corpo onde dói, enxergar os lados maravilhosos que habitam nosso ser e que insistimos em desonrar ou subestimar.
Uma pessoa empática que não sobreleve a autocompaixão como dimensão fundamental está contrariando sua própria existência, como se abrisse mão da sua vida para salvar a do outro, arrancando seu coração para presenteá-lo a terceiros. Em uma dimensão maior, é por amar meus filhos que cuido de mim, é por querer trabalhar que descanso, é por desejar um mundo melhor que me permito estar em contato com a minha felicidade.
O contrário de tudo isso é a negação da vida, pela qual somos corresponsáveis. Algumas frases típicas são: “Isso foi burrice!”; “Como pude fazer uma coisa tão idiota?”; "O que há de errado comigo?”; "Estou sempre pisando na bola”; “Isso foi tão egoísta!”.
Se a experiência do viver é, muitas vezes, difícil para cada um de nós, fazer nascer esse amigo interno e gentil para nos ajudar, pode cuidar de seguirmos apoiados internamente nos momentos difíceis da vida. Num momento de autorreflexão é importante fazer algumas perguntas para entendermos como estamos nos tratando, considerando que se não conseguirmos demonstrar empatia a nós mesmos, dificilmente teremos empatia genuína por outrem.
Como eu estou? Quais os estímulos que estou recebendo nesta situação? Quais os meus sentimentos? Quais as minhas necessidades?
Atitude | Intenção |
Solto meus julgamentos | Me escuto e observo |
Percebo tudo que sinto | Sair da história, ouvir o corpo |
Procuro minhas necessidades | Acolher e sentir a necessidade |
Procuro estratégias para cuidar das minhas necessidades | Como posso cuidar disso na vida |