13 Mar
Comunicando-se autenticamente

1 – Autenticidade: é uma expressão daquilo que é verdadeiro e legítimo em nós. Tem a ver com a nossa constituição humana, que podemos acessar e aceitar. Está relacionada com o reconhecimento de que somos ao mesmo tempo construtivos e destrutivos, bons e nem tanto. A honestidade e autenticidade abre espaço para a singularidade, embora mantendo a conexão com o humano em todos nós. A expressão da nossa verdade essencial e clara demanda uma atitude firme e constante e também um trabalho individual de autoconsciência que praticamos por toda a vida. 

A autenticidade pode ser cuidadosa e respeitosa, é uma força corajosa e não-violenta que trazemos na nossa comunicação, para falar do que sentimos e necessitamos. Falar de si de forma autêntica (e não calar ou apenas julgar) e enxergar o outro com empatia nos ajuda a construir pontes com o outro, especialmente na hora do desentendimento. 

Para isso, o convite é trocar a lente do erro, da culpa, da vergonha, para a lente do “somos todos humanos e imperfeitos”. E isso também vai criando um clima de confiança entre as pessoas, porque o outro percebe que não está sendo acusado, que não precisa se defender na conversa com você e você percebe que pode falar a sua verdade de um jeito que o outro consegue ouvir. 

Mais do que uma técnica de fala, praticar diálogos corajosos são uma jornada de construção de uma mudança profunda de olhar para o que acontece, tanto para si mesmo, quanto para o outro. Com esta mudança, além de tomar consciência do que você sente e precisa, você também enxerga isso no outro. 

Em vez de ver só o comportamento que não gosta e julgá-lo como “errado, inadequado ou absurdo”, você começa a compreender a pessoa que faz aquilo, desenvolvendo empatia. Começa a ver o que ela sente e por que ela faz o que faz – mesmo que você continue não concordando. 

As pessoas de nossa geração têm pavor de conflito, porque elas sabem que as formas que conhecem para lidar com os desentendimentos são tão ineficientes para cuidar da relação e do problema, que é melhor desejar que o conflito não exista ou ignorá-lo. Só que onde tem gente, tem algum conflito, alguma hora, ainda que pequeno. 

Exemplo: você quer falar para um amigo que não gostou quando ele atrasou duas horas para chegar na sua casa. Calar e fazer umas expressões de desânimo provavelmente não vai transmitir a mensagem. Tampouco dizer algo como: “Deixar alguém esperando tudo isso não se faz, é uma falta de respeito!”. Se você queria sensibilizar o outro para o seu incômodo ou até estimular nele alguma mudança, essas duas soluções têm poucas chances de funcionar. 

Na primeira, o outro é poupado de saber da importância que você dá para isso. Na segunda, em vez de te ouvir, o outro tende a se defender. 

Então qual é a solução? 

Você pode começar a praticar diálogos verdadeiramente corajosos diante de pequenos ou grandes conflitos. Conversar com coragem, não esta coragem de cuspir críticas, uma coragem ainda maior, como sugere a palavra – agir com o coração. Estamos falando da coragem de falar de si, em vez de apontar o dedo para o outro, de se mostrar verdadeiro, mostrando o que você sente e também o que te leva a sentir isso, o que você precisava naquela situação. 

Naquele exemplo, eu poderia dizer algo como: “Quando você chegou duas horas depois do que marcamos, fiquei bem desanimada porque cuidado com horário é importante para mim, eu recebo pontualidade como sinal de valorização daquele momento juntos. Como é isso para você?”.