2 – Autocompaixão – Segundo Marshall Rosenberg, a utilidade mais importante da CNV pode ser no desenvolvimento da autocompaixão, pois quando internamente somos violentos para com nós mesmos, é difícil ter compaixão verdadeira pelos outros. Precisamos nos avaliar mesmo quando somos menos que perfeitos, nos avaliar de maneira que promova crescimento em vez de ódio por nós mesmos.
Autocompaixão é a capacidade, que também pode ser desenvolvida, de oferecermos apoio e suporte para nós mesmos, antes de qualquer julgamento ou avaliação. É validarmos nossa experiência a nível dos sentimentos que estamos convivendo e das necessidades que eles indicam que estão querendo ser atendidas. É um ato de gentileza e de amizade internos.
Faz um contraponto com hábitos de cobrança e exigência ou de ideal de eu – o narcisismo, que nos momentos de dor e fracasso não nos apoiam. Se a experiência do viver é, muitas vezes, difícil para cada um de nós, fazer nascer esse amigo interno e gentil para nos ajudar, pode cuidar de seguirmos apoiados internamente nos momentos difíceis da vida.
Podemos sim “aprender uma lição” a partir do autojulgamento severo, mas qual a energia do aprendizado e da mudança? Como fica nossa autoestima? Marshall compartilha conosco o seu desejo de que nossas mudanças fossem estimuladas por um claro desejo de melhorar nossa vida e a dos outros em vez de por energias destrutivas como a vergonha ou a culpa”.
O modo como nos avaliamos nos faz sentir vergonha, e, em consequência disso, mudamos nosso comportamento, permitindo que nosso crescimento e aprendizado sejam guiados pelo ódio por nós mesmos. A vergonha é uma forma de ódio por si próprio, e as atitudes tomadas em reação à vergonha não são livres e cheias de alegria.
Mesmo que nossa intenção seja a de nos comportarmos com mais gentileza e sensibilidade, se as pessoas sentirem a vergonha ou a culpa por trás de nossas ações, será menos provável que elas apreciem o que fazemos do que se formos motivados puramente pelo desejo humano de contribuir para a vida.
Para Marshall, existe uma palavra em especial com enorme poder de infligir medo ou culpa: o verbo dever. “Eu deveria ter feito aquilo”. “Eu deveria saber”. É um verbo que nos faz resistir ao aprendizado, uma vez que ele implica que não temos escolha. Deveria ter feito isso e pronto.
O ser humano tende a resistir a qualquer tipo de exigência, porque a exigência ameaça a nossa autonomia, que é uma das necessidades mais fundamentais. Uma outra expressão semelhante é o “tenho de”: “Eu realmente tenho de parar de fumar”. “Eu tenho que fazer alguma coisa a respeito”.
Nós não nascemos para ceder a tirania, mesmo que seja tirania interna. E quando a gente cede, o movimento vem de uma energia que carece de alegria de viver. “Eu opto por fazer” ou “Eu escolho fazer” passam a mensagem a si mesmo de que você tem escolha. Traduza os julgamentos sobre si mesmo e as exigências internas, pois julgamentos de si mesmo, assim como todos os julgamentos, são expressões trágicas de nossas necessidades insatisfeitas.