30 Mar
Empatia dentro da CNV

A comunicação não violenta é um método desenvolvido pelo psicólogo norte-americano Marshall Rosenberg. No início dos anos 60, durante o auge do movimento a favor dos diretos civis e contra a segregação racial nos Estados Unidos, Rosenberg atuava como orientador educacional em instituições de ensino que eliminavam a segregação. 

O papel de Rosenberg, durante essa conturbada transição, era ensinar mediações e técnicas de comunicação. Nesse contexto, ele elaborou o método da Comunicação Não-Violenta (CNV). Em seu livro homônimo, Rosenberg define a Comunicação Não-Violenta como uma abordagem da comunicação, que compreende as habilidades de falar e ouvir, que leva os indivíduos a se entregarem de coração, possibilitando a conexão com si mesmos e com os outros, permitindo assim que a compaixão se desenvolva. 

Quanto à expressão Não-Violenta, o psicólogo faz uso da definição de Gandhi, se referindo a uma condição compassiva natural que aparece quando a violência é afastada do coração. A técnica é baseada em competências de linguagem e comunicação que auxiliam na reformulação da forma como cada um se expressa e ouve os demais. 

O pesquisador propõe que, com a Comunicação Não-Violenta (CNV), as respostas a estímulos comunicacionais deixem de ser automáticas e repetitivas e passem a ser mais conscientes e baseadas em percepções do momento, por meio da observação de comportamentos e fatores que tem influência sobre cada um. Por meio da escuta ativa e profunda, o método faz com que as interações ocorram com mais respeito, atenção e empatia, como defende o psicólogo. 

1º Pilar da CNV: Empatia - A Comunicação não-violenta não é apenas uma metodologia de comunicação para transformar conflitos, ela é uma consciência e uma intenção de uma validação para aquilo que é importante para cada ser humano. Assim, as minhas necessidades de pertencimento, apoio, respeito e sentido são tão importantes como as suas necessidades de espaço, sentido, clareza e segurança. 

No diálogo empático, honesto e respeitoso, vamos buscar um caminho para que as nossas necessidades sejam e fiquem atendidas. Empatia é um movimento de olhar para a experiência do outro a partir do universo dele, é oferecer presença na escuta, não para concordar ou discordar, nem para buscar soluções ou aconselhar, mas sim para compreender os sentimentos e necessidades do outro. 

É uma habilidade, que pode ser desenvolvida, de compreender o significado da experiência que uma outra pessoa está vivenciando e legitimar essa experiência. Demanda um aquietar de nossas conversas internas, prontas, condicionadas, para abrirmos o espaço curioso e interessado da escuta do outro. 

Numa metáfora, é entrar dentro da casa da pessoa que estamos ouvindo, olhar o que ela tem pendurado na parede, como ela arruma sua sala, o que ela come, qual é sua tradição religiosa, que músicas ela ouve, qual sua cultura familiar, quais são suas experiências, crenças, realidades, e daí, quando conhecemos mais do mundo de dentro dessa pessoa, fica mais fácil compreendermos e validarmos seus sentimentos e necessidades. Fica também muito provável que a conexão entre as pessoas flua a contento. 

Como eu escuto? 

Empatia é compreender antes de resolver. 

Escutar sem empatia é olhar sem ver, é dizer sim com o rosto enquanto a mente está ausente, desconectada e afastada emocionalmente de quem está na frente. 

Poucas competências são tão essenciais para construir relacionamentos fortes e significativos como comunicação e a escuta empática, aquela na qual você pode se conectar com os olhos, os sentimentos e a vontade. Escutar sem empatia é algo mais comum do que podemos pensar a princípio. 

Além disso, às vezes tendemos a ritualizar tanto nossas interações cotidianas que não percebemos a falta de conexão emocional, essa que, quase sem saber, dirigimos a quem está diante de nós. Um exemplo muito característico são os pais e mães que respondem quase automaticamente aos filhos quando explicam algo a eles. São frases banais como “sim, este desenho está muito bonito” ou “sério? Que interessante“, enquanto os pegam na escola ou enquanto estão ocupados com outras coisas e as crianças tentam explicar o que fizeram durante o dia. 

Essas dinâmicas não significam que amamos menos nossos filhos, de maneira alguma. Significam que às vezes não temos tempo para estar presentes e nos limitamos apenas a ouvir sem empatia, porque a vida é agitada, porque nossas jornadas fazem nosso pensamento estar em todos os lugares (e em nenhum ao mesmo tempo). 

O homem, geralmente, tem dificuldade de desenvolver essa escuta empática, pois tudo que ele quer em um diálogo é “resolver os problemas”, quando na verdade, o que a outra pessoa queria era ser ouvida e compreendida. A empatia está em nossa capacidade de sermos presentes, requer tempo e saber estar presente, sem pressa e sem desculpas. 

A atitude empática se vale primeiro do olhar, precisamos olhar para o outro sem julgar, com proximidade e carinho. Devemos saber como responder, as críticas, os julgamentos ou o “eu no seu lugar teria feito” não ajudam nesses casos. 

Acima de tudo, a empatia precisa ser proativa. Porque quem demonstra que entende, mas não faz nada, erra. Fazer acreditar que somos valiosos, mas nos negligenciar mais tarde, deixa uma marca e dói. 

Você acha que está se comunicando? 

A maior questão da comunicação é a ilusão de que ela está acontecendo. 

Precisamos ter uma comunicação efetiva, a forma de se expressar e de ouvir têm que ser sensível. Toda vez que iniciarmos uma comunicação, precisamos refletir se estamos nos comunicando da forma correta, se a pessoa está recebendo a mensagem exata que queremos transmitir e se estamos realmente ouvindo de forma empática aquilo que está sendo falado. Não podemos tentar adivinhar o que a pessoa está querendo falar, e sim, compreender o que está sendo falado.