16 Aug
Fuga

Dependendo da perspectiva, o tempo parece correr mais depressa ou mais lento. Quanto mais escolhas conscientes fazemos em nossa rotina, o dia pode parecer passar até mais depressa, pois, em linhas gerais, estaremos desfrutando melhor de cada segundo dele. 

Todavia, ao fazermos isso constantemente, nosso progresso, mudanças, ações, nossa produção será tamanha que, olhando para um referencial de tempo maior, parecerá ter passado muito mais tempo do que realmente passou. O impacto gerado por 1 semana em consciência pode parecer ter passado 1 mês do nosso antigo habitual "desfrutar do tempo" inconsciente.

Agora, ao vivermos inconscientes, pode parecer justamente o contrário, o dia tende a parecer mais demorado, os segundos parecem horas. Porém, ao olharmos numa perspectiva mais ampla, por vezes 1 ano vai parecer ter passado em 1 semana.

Isso ocorre muito em função de como somos capazes de desfrutar com alegria e prazer do nosso dia a dia ao tomarmos as escolhas com estado de presença e consciência. Independente da tarefa que formos fazer, por mais "chata" e "tediosa" que possa parecer, ao ser realizada com nós ali, encarando ela de frente, com graça, parecerá passar rápido o tempo, pois em leveza estaremos. E como os dias são encarados com leveza, presença, graça e escolhas conscientes, progredimos muito naquilo em que optamos por fazer, por ampliar nosso foco abruptamente, então, há um grandioso progresso no decorrer dos dias.

Agora, a inconsciência, o estado de "ausência" de nós mesmos, causa morosidade no dia a dia, pois atividades rotineiras são encaradas como negativas, transformando assim nossa energia ao realizá-las em algo como um "sacrifício", como "dolorido". Custa a passar o dia a dia, tamanha a densidade que colocamos ali e, como estamos ausentes de nós mesmos, pouco progresso fazemos, vivemos "flashes" de nossas semanas, meses e anos.

O estado adormecido de se viver a vida se baseia geralmente em sextas-feiras, sábados e feriados. Por isso transmite a sensação de passar o tempo tão rápido no longo prazo, é como se estivéssemos cortando, abreviando, nossas vidas. Pulando aquilo que erroneamente classificamos como sem importância para chegar somente no "importante".

O problema é que a pessoa inconsciente classifica como importante os momentos de fuga da realidade. Por isso a dificuldade em sair do ciclo vicioso construído em uma concepção hedonista de se viver. Os raros momentos de presença são as fugas intencionais, e os sem presença as fugas inconscientes.

Encarar a realidade, permitir sentir a vida, viver cada dia de uma vez, colocar-se presente, olhar para dentro de si com coragem e bravura. Seguir adiante apesar das aparentes dificuldades, levantar a cabeça, estufar o peito e viver.

A verdadeira alegria consiste em sentir tudo aquilo que você classifica como "felicidade" sem estar fugindo de si. Ao começar a buscar se encontrar, verá que nenhum desejo egoico é capaz de preencher o vazio interno, somente você mesmo.

E que a antiga "felicidade" era mera ilusão. A verdadeira graça não está em noites de finais de semana, férias esporádicas, vícios diversos. Está em apreciar a beleza do dia a dia, do simples e constante respirar, de humildemente reconhecer estar aqui e agora, vivo e vivendo. 

A partir disto, quando a segunda-feira for tão empolgante quanto o sábado, verá como é bom viver. E sim, após algum tempo, o sábado que já era um dia bom anteriormente, será ainda melhor, recheado de outras atividades, repleto de conexão.