Um dos grandes desafios da humanidade é migrar de uma concepção litigiosa de conflitos para uma colaborativa. Deixar de prevalecer sobre o outro, de enxergá-lo como inferior e de aproveitar as oportunidades para se dar bem em detrimento do outro é ainda uma ousada meta se levarmos em consideração o aspecto cultural da dominância: a vontade excessiva de vencer, não importam os meios nem as circunstâncias.
Seria então a consolidação de que os fins justificariam os meios? Tudo valeria a pena se a alma não for pequena? Até que ponto os nossos desejos são lícitos? Qual a perspectiva que temos para justificar as nossas intenções e ações? Para ter o respeito, é preciso dominar com a força física e com o peso das palavras, mesmo ofensivas? O que o outro, de fato, para mim, representa? Nutro culpa das consequências dos meus atos ou evito a responsabilidade deles?
Culpa e responsabilidade seriam gêmeos siameses, faces de uma mesma moeda ou elementos completamente diversos? Sob o ponto de vista jurídico, de forma ampla e direta, seria culpa como fragmento psicológico, violador de qualquer dever de conduta e baseado em dois pilares: capacidade de previsão de resultados danosos decorrentes de sua atuação e adoção de comportamentos com intenção consciente de prejudicar.
Um primeiro conceito que nos leva a reflexão sem adentrar nas várias teorias da culpa. Perceba o seguinte: atuação consciente de conseqüências prejudiciais. E um prejuízo para quem: para a parte ativa ou passiva? Se estivermos dentro de uma perspectiva de que um tem de ganhar e um perder, o prejuízo de fato seria algo anormal ou faz parte da relação humana de contrato social tácito?
Não seria reflexo de uma sociedade que quer sobreviver não importam as variáveis, a quem enfrentar? Um padrão de comportamento do homem médio? Um "dano" aceitável, tolerado e, por que não dizer, estimulado por uma sociedade que até então só via essa opção de resultado: um vencedor e um perdedor. E indo um pouco mais fundo. Será que de fato o vencedor, em seu íntimo, se sentia vitorioso e do mesmo modo o perdedor se sentia fracassado?
Poderíamos então enxergar essa culpa como percepção subjetiva alinhada a um remorso (índole interna). Surgiria assim a responsabilidade como uma obrigação legal de reparação de um dano decorrente de um comportamento e, portanto, repercutiria de forma externa, de fácil visualização, em sua maioria, de índole financeira. Responsabilidade como mera contraprestação?
Para Freud o sentimento de culpa teria 2 raízes: o desamparo humano e o medo da perda do amor. “Isso revela a dependência humana e ressalta que o desamparo nos deixa à deriva, desprotegidos, suscetíveis aos perigos do mundo. Dentre esses perigos, Freud (1929/1974) ainda destaca o risco de essa mesma pessoa que protegia retornar sua autoridade sobre o indivíduo sob a forma de punição”.
Em termos de responsabilidade, Lacan avança nos estudos de Freud e afirma "... tal noção não se restringe apenas a assumir o ato que lhe é imputado. A responsabilidade implica uma relação com a causa do seu ato, ou seja, qual ponto da subjetividade foi tocado e produzir esse ato como resposta. E é diante disso que se deve responder, pois da posição de sujeito somos sempre responsáveis”.
SENTIMENTO DE CULPA
Surge quando as pessoas têm dificuldade de aceitar os resultados negativos de uma decisão ou de uma atitude;
Geram sensações de paralisações, de bloqueios e impedem o avanço;
Culpa paralisa e leva à baixa autoestima;
O culpado fica estagnado no erro, remoendo-o, martirizando-se e sem conseguir sair dali;
Síndrome do flagelo (autopunição);
Mindset pretérito e negativo;
Peso emocional;
Gera o sentimento de não merecimento.
SENTIMENTO DE RESPONSABILIDADE
As pessoas sentem o poder de decidir sobre determinada situação;
Incentiva à ponderação, à tomada de atitude e à aceitação de resultados sejam positivos, sejam negativos;
Responsabilidade mobiliza;
O responsável olha para o erro, tenta compreendê-lo e percebe ainda que se foi responsável por ele (contribuiu para tal), então é também responsável pelo reparo ou mudança;
Metáfora do arco e flecha;
Mindset prospectivo;
Inteligência emocional e autoconhecimento;
Consciência e clareza do problema.