09 Oct
Projeções emocionais

Muitos trazem da infância lembranças ruins ou mesmo traumáticas. Há aqueles que tiveram uma infância infeliz, mas quase não se lembram dessas experiências, pois as reprimiram. E há quem acredite que teve uma infância "normal" ou até mesmo "feliz" mas, sob um olhar mais atento, isso se revela uma autoenganação.

Mesmo que as experiências de insegurança e rejeição da infância tenham sido reprimidas ou que o adulto as diminua para si mesmo, no dia a dia fica evidente que a confiança básica dessas pessoas foi comprometida. Elas têm problemas de autoestima e duvidam que os outros (o parceiro, a chafe, um novo amigo, etc) gostem mesmo delas ou que sejam desejadas.

Têm baixa autoestima, são inseguras em diversos aspectos e costumam ter dificuldade para se relacionar. Não tendo desenvolvido a confiança básica, falta-lhes um apoio interior.

Assim, nutrem a esperança de que os outros transmitam a elas esses sentimentos de segurança, proteção e pertencimento. Procuram um lar no parceiro, nos colegas de trabalho, em um esporte ou no consumo, mas se frustram, pois os outros só podem transmitir esse sentimento de modo esporádico, na melhor das hipósteses.

É um beco sem saída: quem não tem um lar dentro de si tampouco vai encontrá-lo no mundo exterior.

Estamos falando da tão conhecida criança interior, da representação de todo conjunto de impressões, tanto as boas quanto as ruins, que nos foram transmitidas na infância por nossos pais e por outras pessoas centrais em nossa vida. Apesar de não nos lembrarmos da grande maioria dessas experiências, elas se encontram gravadas de modo indelével em nosso inconsciente.

Não conhecer a criança interior traz grande infelicidade, levando a conflitos interpessoais que não raro saem do controle. Em muitas discussões não são adultos tentando solucionar juntos um conflito, mas crianças interiores se estapeando.

No nível consciente, somos adultos independentes levando nossa vida, mas, no nível inconsciente, nossa criança interior tem grande influência sobre nossa percepção, nossa maneira de sentir, de agir e de pensar. Já foi comprovado pela ciência que o inconsciente é uma instância psíquica extremamente poderosa, determinando entre 80% e 90% de tudo que fazemos e vivenciamos.

Somente quando conhecemos nossa criança interior e a acolhemos é que nos abrimos para descobrir os profundos anseios e cicatrizes que trazemos dentro de nós. Só então podemos vir a aceitar esse lado ferido de nossa alma e começar a curar parte dele.

Assim fortalecemos nossa autoestima e a criança em nós finalmente tem a chance de encontrar um lar. Esse é um pré-requisito para construirmos relações mais tranquilas, amigáveis e felizes e para conseguirmos encerrar relações que não nos fazem bem ou até nos adoecem.

Trecho do livro: Acolhendo sua criança interior, por Stefanie Stahl.